ENSAIOS


A PRAÇA DO CRUZEIRO (Vila Anchieta)

No dia 28 de abril de 2012, o presidente do IHGG Antonio Caprio e respectivos membros diretores Alexandre Caprio e Rafael Augusto Caprio estiveram na Praça do Cruzeiro, Vila Anchieta, São José do Rio Preto, para levantamento de dados junto aos moradores da região sobre o motivo do cruzeiro ter sido levantado naquele local.


O presidente do IHGG Antonio Caprio ao pé do Cruzeiro da Vila Anchieta

Imagem: Alexandre Caprio


 Ainda não se sabe há quanto tempo o cruzeiro original foi colocado neste local. De acordo com moradores antigos, a praça da Vila Anchieta era uma estrada boiadeira. O Cruzeiro teria sido levantado após o assassinato de um casal nesse exato local.


Imagem: Alexandre Caprio

Um fazendeiro teria proibido a filha de namorar, mas a moça teria desobedecido e fugido com um pretendente. O pai e seus capangas teriam alcançado os dois pela estrada e assassinado ambos no local onde, mais tarde, o cruzeiro foi levantado.


Imagem: Nathalie Gingold - Google Earth

Ainda hoje o cruzeiro é local de peregrinação e pedidos. É possível encontrar muitas imagens de cunho religioso e flores em sua base. Estátuas de santos quebradas também são deixadas ali. De acordo com algumas tradições religiosas, essas imagens não podem ser meramente descartadas, mas sim deixadas ao pé de um cruzeiro, em sinal de respeito.

Imagem: Nathalie Gingold - Google Earth

Em 2005 o jornal Diário da Região publicou uma matéria sobre um time inspirado no cruzeiro. Veja a matéria na íntegra:

Cruzeiro da Vila Anchieta existe há 40 anos
São José do Rio Preto, 20 de julho de 2005.
O Cruzeiro Esporte Clube, da Vila Anchieta, foi fundado em 1965 por Aparecido Eraldo, que aos 16 anos de idade decidiu montar um time dente de leite, com garotos do bairro. Inscreveu a molecada em campeonatos realizados no campo de terra que existia na avenida Nossa Senhora da Paz, no Jardim América. Eraldo era técnico, presidente e responsável pelo uniforme. Os cargos foram acumulados por 24 anos consecutivos. Os garotos cresceram e formaram um time adulto, que disputou campeonatos na cidade em todas as categorias amadoras. O nome da equipe é uma homenagem ao cruzeiro que existe na principal praça da Vila Anchieta. Em 1985, a equipe encerrou as atividades por questões financeiras. Eraldo, porém, não abandonou o futebol e trabalhou como colaborador no Udinese e Jomec. Hoje, é técnico e presidente da AD União, que disputou o Campeonato Amador deste ano. Depois de 18 anos inativos, o Cruzeiro ressurgiu em 2003, quando Inivaldo Antônio do Amaral, o Jajá, e José Carlos Ferreira, o Batata, sugeriram o retorno da equipe, rebatizada de Batata Futebol Clube. No retorno, o time foi inscrito no Campeonato Amador e conquistou o título.

 

Publicado domingo, 3 de julho de 2011
Autor: Toninho Cury (Fotógrafo riopretense)

Heróis rio-pretenses que tombaram na Revolução Constitucionalista  de 1932

Quando pequeno, pensava que aquele imponente mausoléu cravado na entrada do “Cemitério da Ressurreição”, na Vila Ercília, era o túmulo dos combatentes da “Revolução de 32”.
Entrei na escola e de lá para cá, passei a entender melhor a história.
A Revolução Constitucionalista, constitui o episódio capital das lutas democráticas que se travaram após a “Revolução de 1930”.
Foi um movimento revolucionário ocorrido no Brasil em 1932, abrangendo os estados de São Paulo e Mato Grosso, e com repercussões em outros pontos do território nacional.
Rio Preto e região recrutaram aproximadamente 600 homens para o combate.
A “Guerra Paulista”, como aprendi no grupo escolar, era por uma constitucionalização do país.
Minha professora dizia: “Havia sido uma guerra desleal. Nossos soldados não tinham armas suficientes. Usaram desde foices e rojões (para imitar tiros), até pedaços de paus e pedras. Foi uma batalha desleal e todos sabotaram nosso Estado. Mas era para todos nos orgulharmos por São Paulo, porque se existe ordem e progresso, boas escolas, justiça e paz, devemos aos nossos heróis de 32”.
Guardei isso dentro de mim, como guardo o beabá e a tabuada. Coisas da infância que carregamos por toda vida.
O tempo passou, a gente cresceu e o mundo mudou.
Hoje temos a internet e neste blog coloco uma pesquisa que sempre tive vontade de fazer mas não havia espaço para tal.
Então, vamos lá :

O Mausoléu ao Soldado Constitucionalista foi feito pelas mãos do artista campineiro, Hélio Coluccini, em 1937. Foi fixado na entrada do “Cemitério da Ressurreição”. No ano de 1968, foi transferido para a Praça Rio Branco, em frente ao nosso Fórum.
Ainda relembrando minha escola, a professora dizia que as tropas rio-pretenses, haviam saído do antigo “1º Grupo Escolar de Rio Preto”, posteriormente, “Cardeal Leme”, e hoje, o Fórum. Portanto, o Mausoléu está posicionado no local onde foram alinhadas as tropas. Será que a sua transferência tem algo a ver com essa história?
São Paulo tinha 8.500 soldados. Seiscentos soldados eram da região de Rio Preto.
O então presidente Getúlio Vargas, enviou para cercar os revolucionários, 18.000 homens bem aparelhados com o que havia de melhor no mercado bélico da América do Sul.
A guerra foi sangrenta e durou três meses.
Nesse período, Rio Preto e região perderam 9 soldados em combates.

Abaixo, publico em primeira mão para toda Rio Preto, pequenas biografias de nossos heróis, conforme dados colhidos  por Oswaldo Bretas Soares e publicado pelos historiadores Dr. Benedicto Montenegro e Alberto Aguiar Weissohn no livro denominado “Cruzes Paulistas”, de 1936, seguindo a mesma grafia utilizada na época:

+ ANTONIO AMARO - Portuguez de nascimento, Antonio Amaro ha muito se integra com a nossa gente da cidade e do sertão. Morava em Tanaby. Iniciada a Revolução, fez parte da comissão local do M.M.D.C. , a efficientissima organização da rectaguarda.
Não ficou satisfeito, porém, com o valioso auxilio que ali prestava. Quis fazer mais. E, conhecedor da região de Porto do Taboado, tornou-se guia das tropas commandadas pelo Cap.José Teixeira Pinto. A 12 de Agosto, ia elle à frente da tropa, próximo ao córrego do Jacú Queimado, quando, ao frontear a residência do sr. João Wensceslau, uma força adversária atacou-a de surpreza.
Antonio Amaro foi o primeiro a cahir, com um ferimento na cabeça, morto ao mesmo instante. Seu corpo foi pelos adversários jogado ao rio Paraná, sem que os remanescentes da tropa que elle guiava, o 1º batalhão de Rio Preto, pudessem dar-lhe sepultura christã.
DADOS BIOGRAPHICOS - Nascera Antonio Amaro em Castello Velho, Portugal, a 24 de Abril de 1891, filho do sr. Eduardo Amaro e de d.Anna Amaro. Casado com d.Christina Martins Amaro, era commerciante e proprietário em Tanaby. Brasileiro naturalizado, exercera, por vezes, cargos públicos naquella cidade paulista.

+ CARMO TURANO - ( Voluntário) - Em Ignácio Uchôa, Carmo Turano incorporou-se à 2ª. Cia de Guerra “Alta Araraquarense”, sub-unidade do batalhão “Francisco Glycerio”, columna Romão Gomes, partindo com ella, a 19 de Julho, para a frente da São José do Rio Pardo, sob o commando do cap.Elpidio Silveira. Ferido gravemente durante a retirada de Gramma, falleceu em São José do Rio Pardo a 17 de Setembro. Sepultado naquella cidade, em Outubro do anno seguinte, foram seus restos trasladados para Cedral, onde reside sua família. Conquistara em campanha as divisas de sargento e aureolou a sua morte com um halo de heroísmo, pois suas últimas palavras foram um viva a São Paulo !
DADOS BIOGRAPHICOS - Carmo Turano – “Carminho”, como era conhecido entre os íntimos e os camaradas de campanha – nascera em Rio Preto a 4 de Outubro de 1910, filho do sr. Francisco Turano e Rosa Petreca Turano. Solteiro, tinha não obstante, vastas relações sociaes. Deixou os seguintes irmãos: Salvador, industrial em Ignácio Uchoa; d.Maria, casada com Vicente Garisto; d.Isolina, casada com Vicente S.Galante, também combatente de 32; d.Antonietta, casada com o dr.Alvaro Réa; d.Assumpta, casada com Vicente Victagliano; e senhorinha Luiza Turano.

ELYDIO ANTONIO VERONA -  ( Voluntário) – A 1ª Cia do 3º batalhão “9 de Julho”, depois de operar em Eleutério, Espírito Santo e Jaguary, estava, em fins de Setembro, na Fazenda Japoneza, situada entre Jaguary e Campinas. Elydio Antonio Verona, que fazia parte do 3º pelotão, durante um momento de tréguas, deixou, com outros companheiros, a trincheira, em busca de alimentação. Ao voltarem, foram surprehendidos pela fuzilaria adversária, fora da trincheira. Defenderam-se, respondendo ao tiroteio, estendidos no chão. Um projectil apanhou Verona no alto da cabeça, sahindo-lhe pela nuca. Foi sepultado no próprio local.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nascera Elydio a 10 de Julho de 1913 em Santa Eudoxia, comarca de São Carlos, filho do sr.José Verona e de d.Elisa Verona Pazzin. Commerciante, com curso da Escola de Commercio “Pedro II”, residia, como seus irmãos Avelino, Mathilde, Santo, Mario e Casemiro Verona, em Rio Preto.

IPIROLDES MARTINS BORGES – (Voluntário) – No primeiro batalão constituído em Rio Preto, Ipiroldes Martins Borges apresentou-se. Sua incorporação deu-se a 20 de Julho, sendo inscripto na 3ª companhia, sob o número 137. Em virtude de sua extrema juventude, tanto a sua família como o commando do Regimento de Rio Preto fizeram opposição ao seu alistamento. Tudo foi inútil. A decisão do jovem foi irrevogável. Nada poude cohibi-lo. Seguiu para a zona de combate. Luctou bravamente. Porem um mez depois,  precisamente em 20 de Setembro, no sector de Jaguary, foi attingido por uma bala de fuzil no peito, morrendo instantaneamente. Seu sepultamento deu-se em Carlos Gomes.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nascido em Serra Azul, neste Estado, a 22 de Fevereiro de 1915, era filho de João Martins Borges e de d.Emilia Martins Borges. Deixou os seguintes irmãos: Alípio, Octavio, Helena, Agenor, Emygdio, Liria, Cynira, Maria de Lourdes e Rosa.
Exercia a profissão de mechanico.

JOÃO BAPTISTA DE ARAUJO – (Voluntário) – Icorporado em Rio Preto, logo no início das operações, João Baptista de Araújo seguiu para a zona Leste, como soldado do batalhão “Voluntários de Rio Preto”.Foi um valente e um disciplinado defensor da causa constitucionalista. Morreu em pleno combate, no dia 10 de Setembro, na Fazenda Guedes, em Campinas, de um ferimento produzido por bala de fuzil. Sua morte deu-se instantaneamente, sendo sepultado junto a um bambual onde tombara.
DADOS BIGRAPHICOS – Nasceu em Franca, no dia 8 de Fevereiro de 1898, filho do sr. João Delphino de Araújo e d.Maria C.de Jesus. Era casado com d.Maria Conceição Araújo e deixou quatro filhos menores: Helena,Célio,Christina e Sylvia.
Exercia a profissão de motorista

JOAQUIM MARQUES DE OLIVEIRA – (Voluntário) – Incorporado em Rio Preto, no batalhão “Voluntários de Rio Preto”, Joaquim Marques de Oliveira, sob o comando de Luiz de Mello, seguiu para a frente no dia 10 de Agosto. Este não morreu na trincheira, mas nem por isso o posto era de menor honra. Foi ferido de morte dentro de seu aultomóvel, quando conduzia alguns officiaes para a frente de combate entre Porto Taboado e Lussanvira. Foi attingido na cabeça por bala de F. M. , morrendo instantaneamente.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nasceu em Uberaba, Estado de Minas. Apparentava a idade de 25 annos, era solteiro e motorista de profissão.

MANOEL DA VISITAÇÃO PITTA JUNIOR – (Voluntário) – Nas rodas de seus íntimos de seus camaradas de trincheira, Manoel da Visitação Pitta Junior, era mais conhecido como “Nenê Pitta”. Assim ficou elle conhecido entre os componentes do batalhão de Novo Horizonte, ao qual se incorporara a 27 de Julho no posto de Cabo, e com o qual partira, logo depois, para Porto Taboado, na fronteira de Matto Grosso. No primeiro combate alli travado, Nenê Pitta foi ferido a bala, ficando seu corpo no local denominado “Jacú Queimado”. Suppõe-se que tenha sido sepultado pelas forças adversárias.
DADOS BIOGRAPHICOS – Filho do sr.Manoel da Visitação Pitta e de Sophia Magdalena Pitta, era nascido em Ibitinga a 10 de Maio de 1887. Casado, deixou uma filha de nome Sophia Aparecida. Eram seus irmãos: José Honório, Mamede, Emília, Georgina, Julia, Alcindo, Álvaro, Maria e Olga Pitta.

OSWALDO SANTINI - (Força Publica) – Destacado para uma patrulha de reconhecimento nas proximidades de Porto do Taboado, o Cabo Oswaldo Santini, do 3º B.C.P. de Força Publica, que até dias antes fora chefe de uma M.P. da defesa anti-aerea da Capital paulista, foi visado e morto por tropas adversárias munidas de armas automáticas, a 12 de Agosto. Sepultaram-no no próprio local onde cahira. Posteriormente, seu corpo foi trasladado para Rio Preto, onde se encontra.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nascido em Ubatuba, filho do sr.Jorge Santini e de d.Evarista Garcia Santini, Oswaldo tinha 20 annos de edade e era solteiro. Deixou os seguintes irmãos: Jorge, casado com Dolores Santini; d.Lydia, viúva da Castoamor Simões; Carlos, casado com d.Aurora Santini; d.Maria,casada com Nicola Capece; José, Dinorath,Ercílio,Ivone,Décio e Ary Santini.

TOTÓ DUARTE (Antonio Duarte da Fonseca) – (Voluntário) – Com a 3ª cia. Do 4º Bat.9 de Julho, Totó Duarte, como elle era conhecido, partia , a 28 de Agosto, para frente mineira de combate. Poucos dias poude luctar.
A 4 de Setembro, em combate no morro do Gravy, sub-sector de Itapira, um estilhaço de granada matou-o. Sua carreira foi curta. Bastou, porém, para demonstrar-lhe o valor.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nascido em Tambahu, a 20 de Outubro de 1905, era Antonio filho do sr. Francisco Duarte da Fonseca, residente em Santos. Casado com d.Jandyra Medeiros Duarte, deixou um filhinho de poucos dias de idade. Tinha os seguintes irmãos: Alfredo, Antonia, Apparecida, Benedicto, Lourdes e Marietta Duarte da Fonseca. Possuía senso do civismo em alto grau. Em 1930, foi um dos primeiros a se apresentar para o combate aos revolucionários de então. Era commerciante em café e cereas.



CIA TELEFONICA RIO PRETO – ANO 1963
22/06/2011Autor: Toninho Cury (Fotógrafo riopretense)

Vamos viajar no tempo.
Hoje, durante a realização desta foto, dei uma folheada na lista telefônica de 1963, da “Cia Telefônica Rio Preto”, empresa que na época pertencia a família Haddad.
Naquele ano, tinha 10 anos de idade e cursava a 3ª série no “Cardeal Leme”.
Puxei na memória alguns comércios e profissionais liberais que cheguei a conhecer.
A título de curiosidade e boas lembranças, passo abaixo, os nomes, endereços e telefones, para aqueles saudosistas degustarem uma Rio Preto antiga ou até ir “in loco” observar o que está hoje no local.


                                                                         A
A Calçadeira: Praça S.José, 2872..........................................................................fone: 1812
A Regional: R.General Glicério,3018......................................................................fone: 2618
A Notícia: R.General Glicério,3145.........................................................................fone: 1295
                                                                         B
Banco Alfomares S/A: R.Jorge Tibiriçá,2957.......................................................fone: 4149
Bar e Café do Jéca: R.Bernardino de Campos,2025.........................................fone: 1693
Bassitt,Lotf João: Rua Voluntários de São Paulo,3553.....................................fone: 2634
                                                                        C
Câmara Municipal: R.Jorge Tibiriçá,3149..............................................................fone: 2888
Cantina e Pizzaria Napoli: R.General Glicério, 3092............................................fone: 1609
Casa Bueno: R.Bernardino de Campos,3052.......................................................fone: 2665
                                                                         D
Diário da Região: R.Marechal Deodoro, 2862........................................................fone: 3012
Dias Martins S/A: R. Bernardino de Campos, 2615.............................................fone: 2706
Drogasil Orion: R.Bernardino de Campos, 3158..................................................fone: 1015
                                                                         E
Empório Cruzeiro: R.Bernardino de Campos, 4023.............................................fone: 2691
Estrada de Ferro Araraquara:Pça.Paul S. Harris..................................................fone: 1700
                                                                         F
Fábrica de Bebidas Centenário: R.Coronel Spínola, 2834..................................fone: 2190
Fábrica de Cigarros Sudan S/A: R.Pedro Amaral, 2575.......................................fone: 2540
Foto Brasil: R.Coronel Spínola, 2947........................................................................fone: 3060
                                                                         G
Gorayeb e Cia: R.Voluntários de São Paulo, 3023.................................................fone: 3780
Grande Hotel: R.Bernardino de Campos, 3046......................................................fone: 1091
Guimarães Cabeleireiro: R.Tiradentes, 2524.........................................................fone: 3934
                                                                        H
Hospital das Clínicas Rio Preto S/A: Rua Voluntários de São Paulo, 3439.......fone: 1633
Hotel Avenida: R.Bernardino de Campos, 3248......................................................fone: 2976
Hotel São Luís: R.Voluntários de São Paulo, 2657..................................................fone: 2083
                                                                        I
Instituto de Cardiologia: R.Silva Jardim, 3114.........................................................fone: 1292
Irmãos Curti: R.Tiradentes, 2249................................................................................fone: 2107
Irmãos Braga Com. De Automóveis S/A: R.Bernardino de Campos, 3395.......fone: 2360
                                                                       J
J.Alves Veríssimo S/A Com.e Importação: R.Bernardino de Campos, 2660....fone: 1325
Joalheria Lobanco: R.Silva Jardim, 3060...................................................................fone: 1361
Jockey Club de S.J.R.P.: R.Bernardino de Campos, 3180 -1º andar....................fone: 3360
                                                                       K
Kfouri Assef (Expresso Dragão): R.Raul de Carvalho, 860...................................fone: 2534
Kibon S/A (Indústria Alimentícia): R.General Glicério, 4656..................................fone: 4410
Kosmos Capitalização S/A: R.Jorge Tibiriçá, 2967 – 3º andar..............................fone: 2359
                                                                     L
Laboratório de Análises Dr.Benfatti: R.Voluntários de São Paulo, 3117............fone: 1534
Laticínios Rio Preto: R. Mj.Jq.Bgs. Carvalho, 55.......................................................fone: 2810
Loja Cristalux: R.Bernardino de Campos, 3192.......................................................fone: 2733
                                                                    M
Máquina Central: R.João Mesquita, 3193..................................................................fone: 2786
Máquinas Fadlaj-Ind.Com.Ltda.: R.Redentora, 485.................................................fone: 4426
Mercearia Caldense: R.Siqueira Campos, 2966.....................................................fone: 1535
                                                                    N
Naffah Waldemiro-Advogado.Escr.: R. Bernardino de Campos, 3141-1º a. cj.13..fone: 1307
Nassere Racy Aidar-Dentista: R.Boa Vista, 746.......................................................fone: 4284
Nimer Paulo-Advogado Escr.: R.Bernardino de Campos, 510-3º andar.............fone: 3883
                                                                    O
O Caprichoso-Camiseiro: R.Siqueira Campos, 2377..............................................fone: 2553
Oficina Mecânica Suffredini: R.Prudente de Moraes, 2719....................................fone: 2089
Ótica Santa Luzia: R.Jorge Tibiriçá, 3016...................................................................fone: 3864
                                                                    P
Padaria A Delícia: R.Marechal Deodoro, 2867............................................................fone: 1811
Ponto de Charrete da Estação: Pça. Paul S Harris...................................................fone: 3306
                                                                   Q
Quarto Grupo Escolar de S.J.R.P.: Av. da Saudade, 3719.......................................fone: 1929
                                                                   R
Regional Modas: Rua General Glicério, 3018.............................................................fone: 3492
Riprauto S/A-Com.de Automóveis: Rua Tiradentes, 2928.......................................fone: 4011
                                                                   S
Salada Paulista: R. Bernardino de Campos, 2752.....................................................fone: 2021
Salão de Chá Luar de Agosto: R. Silva Jardim, 3010.................................................fone: 3540
Super Mercado Serv-Lev: R.Coronel Spínola, 3140..................................................fone: 1020
                                                                  T
Telespark-Rádios Fonolas: R.Marechal Deodoro, 2957-sobreloja..........................fone: 4075
Tinturaria Bandeirantes: R.Coronel Spínola, 3451.....................................................fone: 2007
Torrefação e Moagem de Café São Carlos: R. Bernardino de Campos, 2442.....fone: 2005
                                                                  V
Viação Aprazível Paulista Ltda: R.General Glicério, 4583........................................fone: 2097
Vice-Consulado de Portugal: R. Jorge Tibiriçá, 2718.................................................fone: 2718
Voskswagen Agência: R.Marechal Deodoro, 2957-subsolo....................................fone: 3855
                                                                  W
W.Grisi: R.General Glicério, 3465....................................................................................fone: 1588
Woltex-Peças e Acessorios: R.Prudente de Moraes, 3098......................................fone: 1418
                                                                  X
Xavantes-Frigorífico/Produtos: R. Pedro Amaral, 2099.............................................fone: 4347
                                                                  Z
Zezinho Camiseiro: Pça. Rio Branco, 3222...................................................................fone: 2785


Mil e Uma Noites do Sertão: As Políticas Públicas para a Industrialização, a Construção do Patrimônio Agroindustrial e os Desafios das Políticas de Preservação do Patrimônio em São José do Rio Preto/SP

sábado, 11/06/2011
Autor: Fábio Fernandes Villela, doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, professor do departamento de Educação, Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP - Campus de São José do Rio Preto – SP – Brasil, e-mail: fvillela@ibilce.unesp.br


Este texto tem por objetivo apresentar as relações entre as políticas públicas para a industrialização, a construção do patrimônio agroindustrial e os desafios das políticas de preservação do patrimônio em São José do Rio Preto (SP). Nesse sentido, partimos da problematização histórico-teórico do tema, as políticas públicas para a industrialização no Brasil, e seus desdobramentos, e abordamos a construção do patrimônio agroindustrial em Rio Preto, temática vinculada à preservação do “patrimônio ambiental urbano”, conforme Castriota (2009, p. 87). Problematizamos especificamente as questões relativas aos “intelectuais e a organização da cultura”, especialmente os libaneses em Rio Preto. A questão dos “Intelectuais e a Organização da Cultura”, sob uma perspectiva gramsciana (Gramsci, 2001), foi abordada em diversos trabalhos ao longo de nossa trajetória acadêmica (Villela, 2003; 2005; 2008). No sentido de exemplificar tais questões, escolhemos um “intelectual orgânico” da construção do patrimônio agroindustrial de Rio Preto, Murchid Homsi (1895-1959). Ao analisarmos as práticas destes “intelectuais orgânicos”, emerge a necessidade de políticas de preservação da “Memória do Lugar”, no sentido apresentado por Hayden (1997), especialmente do patrimônio de Rio Preto.

Palavras-Chave: Políticas Públicas para Industrialização; Patrimônio Agroindustrial; Memória do Lugar; Políticas de Preservação do Patrimônio em São José do Rio Preto.

Introdução

“Minha irmã, se não estiveres dormindo, suplico-te, à espera do dia que não tardará em nascer, me contes uma das tuas belas histórias”. (Sherazade, As Mil e uma Noites).

Este texto tem por objetivo apresentar as relações entre as políticas públicas para a industrialização, a construção do patrimônio agroindustrial e os desafios das políticas de preservação do patrimônio em São José do Rio Preto (SP), (doravante, Rio Preto). Nesse sentido, partimos da problematização histórico-teórico do tema, as políticas públicas para a industrialização no Brasil, e seus desdobramentos, e abordamos construção do patrimônio agroindustrial em Rio Preto, temática vinculada à preservação do “patrimônio ambiental urbano”, conforme Castriota (2009, p. 87). Problematizamos especificamente as questões relativas aos “intelectuais e a organização da cultura”, especialmente os libaneses em Rio Preto.

A questão dos “Intelectuais e a Organização da Cultura”, sob uma perspectiva gramsciana (Gramsci, 2001), foi abordada em diversos trabalhos ao longo de nossa trajetória acadêmica (Villela, 2003; 2005; 2008). No sentido de exemplificar tais questões, escolhemos um “intelectual orgânico” da construção do patrimônio agroindustrial de Rio Preto, Murchid Homsi (1895-1959). Ao analisarmos as práticas destes “intelectuais orgânicos”, emerge a necessidade de políticas de preservação da “Memória do Lugar”, no sentido apresentado por Hayden (1997), especialmente do patrimônio de Rio Preto.

O estudo dos intelectuais, tal como formulado por Gramsci (2001), nos permite recolocar importantes questões para a compreensão das relações entre as políticas públicas para a industrialização, a construção do patrimônio agroindustrial e os desafios das políticas de preservação do patrimônio de Rio Preto. Uma parcela desses intelectuais, caracterizados como “intelectuais orgânicos” por Gramsci (2001), tais como Rino Levi e Roberto Simonsen (cf. Villela, 2003 e 2005), reúne capacidades necessárias para serem organizadores da sociedade em geral, de modo a permitir a máxima expansão de sua própria classe, ou seja, tornam-se “organizadores estatais”.

Nossa hipótese é que o libanês Murchid Homsi, radicado em Rio Preto a partir 1910, condense as principais características de “intelectual orgânico” tais como as descritas por Villela (2003 e 2005). Conforme Gramsci (2001, p. 237) revela, nem todos os empresários, mas pelo menos uma elite deles tem uma capacidade de organizar a sociedade em geral, em todo seu complexo organismo de serviços, até o organismo estatal, pela necessidade de criar as condições mais favoráveis à expansão de sua própria classe. Esses “intelectuais condensados” são organizadores políticos e vanguarda da burguesia nacional, conforme aponta Bianchi (2001).

O tema dos “intelectuais orgânicos”, retomado a partir de Gramsci (2000), deriva diretamente do destaque que tem para este autor a problemática da hegemonia. Conforme nos mostra Gruppi (2000), uma hegemonia se constrói quando tem seus quadros, seus elaboradores, seus intelectuais. Os intelectuais são os quadros da classe econômica e politicamente dominante; são eles que elaboram a ideologia. Os intelectuais são os sujeitos da hegemonia da classe dominante. O estudo desses “intelectuais orgânicos” possibilita a compreensão da constituição da hegemonia burguesa no Brasil (cf. Bianchi 2001; Villela 2003; 2005; 2008).

1. As Políticas Públicas para a Industrialização no Brasil

A principal tese que Ianni (1986, p. 304) defende é que o desenvolvimento econômico, em geral, e a industrialização, em particular, não foram o resultado do jogo espontâneo e automático das forças produtivas no mercado, em combinação com a atividade empresarial. E que essa participação decisiva do poder público na economia brasileira, ao menos em algumas fases do desenvolvimento econômico, resultou de certas condições estruturais. Nossa hipótese é que há um sincronismo entre a história econômica brasileira e a história econômica de Rio Preto que pode ser claramente identificado, desde os primórdios da industrialização até os dias de hoje. Propomos a seguinte evolução sincrônica da história econômica de Rio Preto, a partir da tipologia de Ianni (1986): 1ª) Final do século XIX até Década de 30 – Política Econômica Liberal; 2ª) Décadas de 30 a 50 – Política Econômica Nacionalista3ª) Décadas de 60, 70 e 80 - Interdependência e Modernização; e 4ª) A partir da década de 90 – Política Econômica Neoliberal.

Conforme veremos a seguir, as condições estruturais, especialmente em Rio Preto, refletiram a necessidade de criar novas condições institucionais, quanto a disponibilidades de capital, tecnologia e força de trabalho, para que crescesse o volume e a taxa de produção de excedente econômico. A história econômica de Rio Preto revela a intervenção governamental, mais ou menos profunda, conforme o caso, e destinou-se a acelerar o processo de transformação do excedente econômico potencial em excedente econômico efetivo. Em outras palavras, “a ação estatal” favoreceu a “racionalização” do sistema produtivo, segundo as exigências da reprodução e acumulação estabelecidas pelo setor privado. Certas fases do desenvolvimento econômico dependem de “saltos qualitativos”, isto é, algum “incentivo” no processo econômico.

A história da política econômica governamental brasileira, segundo Ianni (1986, p. 307-313), desde 1930, oscilou entre duas tendências principais: a primeira denominada de “Estratégia de Desenvolvimento Nacionalista” a qual predominou nos anos 1930-45, 1951-54 e 1961-64. Ela continha, como pressuposto implícito, o projeto de um capitalismo nacional, como uma única alternativa para o progresso econômico e social; e a segunda chamada de “Estratégia de Desenvolvimento Associado” que predominou nos anos 1946-50, 1955-60 e desde 1964 em diante. Ela continha, como pressuposto, o projeto de um capitalismo associado como única alternativa para o progresso econômico e social. E esse projeto de capitalismo, para o autor, implicava o reconhecimento das conveniências e exigências da interdependência das nações capitalistas, sob a hegemonia dos Estados Unidos.

A evolução do sistema político-econômico brasileiro, conforme ocorreu desde 1930, revela o desenvolvimento e a convergência de duas tendências importantes para a compreensão do tipo de capitalismo vigente no País. Segundo Ianni (1986, p. 301), essas tendências são: 1ª) o Estado foi levado a desempenhar funções cada vez mais complexas no conjunto da Economia. Essa participação crescente teve caráter direto e indireto, desde a freqüente formulação e reformulação das “regras do jogo” das forças produtivas no mercado até a criação de empresas estatais; 2ª) a política econômica governamental tornou-se cada vez mais complexa e ambiciosa, chegando a configurar-se como “política econômica planificada”.

A política econômica governamental brasileira nem sempre foi uma política deliberada de desenvolvimento, conforme revela Ianni (1986, p. 301). Às vezes ela foi apenas, ou principalmente, “política de estabilização”. Outras vezes, orientou-se no sentido da “harmonização ou integração de setores produtivos e subsistemas regionais do País”. Portanto, nem sempre o crescimento da renda nacional foi resultado da “política econômica governamental”, planificada ou não. Ao contrário, em diversas ocasiões o crescimento da Economia não foi senão o resultado de decisões, investimentos e condições de mercado funcionando “sem qualquer direção governamental”.

Enfim, a implantação da principal política pública para o território nacional, isto é, a industrialização, conforme Ianni (1986, p. 305), “não foi o resultado de mudanças quantitativas de pequeno vulto, embora essas mudanças tenham ocorrido e tenham sido importantes”. Segundo o autor, a transição para a fase de produção de bens de produção esteve associada a transformações “qualitativas”, isto é, estruturais. As transformações de tipo “qualitativo”, conforme ocorreram na economia brasileira, estiveram ligadas à participação crescente do poder público nas decisões, estímulos e investimentos relacionados com o conjunto do sistema econômico do País. A essência do “salto qualitativo” é a acentuação do elemento político, inerente às políticas econômicas governamentais. Essas evoluções e transformações da principal política pública para o território nacional, isto é, a industrialização, pode ser observada em Villela (2003; 2005 e 2008).

2. A Construção do Patrimônio Agroindustrial de Rio Preto

Passamos a considerar os aspectos relativos à industrialização de Rio Preto e à construção de seu patrimônio agroindustrial. Esse esforço, como já adiantamos, visa ressaltar o sincronismo da história econômica de Rio Preto com a história econômica brasileira, e que, segundo nossa hipótese, pode ser claramente identificada desde os primórdios da industrialização até os dias de hoje. Retomando a história econômica de Rio Preto veremos que as “políticas econômicas governamentais” estiveram sempre presentes nas fases do desenvolvimento econômico da região. A seguir, abordaremos o final do século XIX até década de 30 (Política Econômica Liberal) e as décadas de 30 a 50 (Política Econômica Nacionalista).

2.1. Final do século XIX e início do século XX – Política Econômica Liberal

A primeira etapa das políticas públicas do Estado para a industrialização, que vai do final do século XIX até o início do século XX, em Rio Preto, pode ser averiguada desde as primeiras reuniões dos vereadores, no final de 1894, conforme mostra Arantes (2001, p. 148-150). O pesquisador revela que o primeiro documento contundente abordando este tema é datado de 01/06/1896, quando a Câmara Municipal enviou extenso memorial ao governo estadual, assinado pelo presidente Pedro Amaral, solicitando urgentes melhorias para o município, tais como a criação da Comarca e a abertura da estrada de rodagem para o Porto Taboado. Os vereadores argumentavam, na tentativa de sensibilizar as autoridades estaduais, que o município tinha “mais de duas mil almas”, e que a implementação dessas melhorias deveria atrair investimentos para a cidade, incentivando a vinda de pessoas com recursos para impulsionar e desenvolver a lavoura.

Ainda segundo Arantes (2001), a luta pela construção da estrada do Taboado atesta o esforço dos governantes daquela época, que viam na estrada o início do “desenvolvimento econômico”, porque permitiria o escoamento da produção tanto em direção a Jaboticabal e Araraquara e, daí, para São Paulo, como para os lados do Mato Grosso, onde existiam grandes fazendas produtoras de gado. Com a abertura da estrada, o gado mato-grossense passaria por Rio Preto rumo a Barretos. Para Arantes (2001, p. 149), o grande marco do início do desenvolvimento econômico de Rio Preto é o segundo semestre de 1912, com a chegada da Estrada de Ferro Araraquarense (E. F. A.). O autor afirma que,

São José do Rio Preto torna-se até 1933, isto é, por mais de 20 anos, ponta de trilhos, isto é, “fim de linha”. A cidade torna-se pólo de convergência de passageiros e de toda a produção da região. Durante duas décadas e a partir desse momento, a cidade torna-se um “pólo de crescimento” capaz de exercer efeitos de atração ou de dominação sobre os demais municípios a ele relacionados. Torna-se uma “força motriz” no sentido de que proporciona e conduz mudanças na estrutura espacial e na sua área de influência, o que faz com que obtenha expressivas taxas de crescimento. (ARANTES, 2001, p. 149).

Como destacamos de início, a história econômica de Rio Preto mostra que o desenvolvimento econômico, em geral, e a industrialização, em particular, não é resultado do jogo espontâneo e automático das forças produtivas no mercado, combinado com a atividade empresarial. A participação decisiva do poder público na economia é o resultado de certas condições estruturais. Conforme relata Arantes (2001. p. 149), a primeira tentativa de industrialização de Rio Preto é de 1926, quando a Câmara Municipal decidiu autorizar o prefeito Alceu de Assis a conceder isenção de impostos por 10 anos para a instalação de uma fábrica de tecidos. Segundo o pesquisador, “não há informações sobre a existência de um possível interessado, oficialmente não houve registro de interesse”. A história econômica de Rio Preto comprova a tese de Ianni (1986) das intervenções das “ações do estado” no processo de industrialização de Rio Preto.

Seguindo as considerações feitas pelo pesquisador, a industrialização ficou esquecida por mais de uma década até que, em 15/02/1937, o vereador João Baptista França propôs doação de terreno e isenção de imposto para quem montasse uma fábrica na cidade. Em junho de 1937, quatro meses depois, o vereador Feliciano Salles Cunha apresentou um projeto de lei que além de doação oferecia subsídio em dinheiro para incentivar a vinda de indústrias (20 contos para fábrica de óleo e tecelagem, e 30 contos para charqueadeira). O projeto foi rejeitado dois meses depois, no dia 02/08 do mesmo ano. O marco do início da industrialização de Rio Preto foi a instalação da “Swift do Brasil” em 1944 (doravante Swift), que durante todo o seu tempo de funcionamento foi a maior empresa empregadora da cidade. Segundo informações do pesquisador, no período da moagem do caroço de algodão, ela empregava cerca de 230 funcionários, número que baixava para 170 na época de moagem do amendoim. Arantes (2001. p. 149) afirma que,

A industrialização só teve início quando a Swift do Brasil escolheu Rio Preto para implantar sua fábrica de óleo de caroço de algodão. Naquela época, a cidade ocupava lugar de destaque como sede de uma região riquíssima na produção de algodão. A Swift inaugurou seus prédios, numa área de 40.000m2, às margens dos trilhos da Estrada de Ferro Araraquarense (E. F. A.) em 14/04/1944, sob a gerência de Douglas Emery e W. J. Montgomery. O complexo de edifícios da Swift tinha três grandes construções da arquitetura industrial inglesa, típica de região fabril de Manchester: o graneleiro com 3.000m2, o prédio das máquinas com 2.500m2 e o da caldeira e gerador com 1.500m2. A construção esteve sob responsabilidade da empresa paulistana J. P. Urner. A Swift produzia óleo de caroço de algodão e de amendoim. O óleo era transportado em vagão-tanque para Campinas, onde era refinado e enlatado. O óleo de caroço de algodão era enlatado com a marca “A Patroa” e o de amendoim, “A Dona”. (ARANTES, 2001, p. 149).


Figura. 2.1. Swift em Rio Preto (1944)
Fonte: Villela (2010)

















2.2. Décadas de 30 a 50 – Política Econômica Nacionalista: As Mil e uma Noites do Sertão

Neste subitem, procuramos focalizar as décadas de 30 a 50, denominada metaforicamente de “As Mil e uma Noites do Sertão”, devido à grande presença de imigrantes sírios e libaneses[1] em Rio Preto. Neste período, emerge a personalidade de Murchid Homsi (1895-1959). Nascido em Hasbaya - Líbano, veio para o Brasil em 1910, estabelecendo-se inicialmente em José Bonifácio - SP[2]. Nesta mesma época, segundo Arantes (2001, p. 149), além da Swift, instalaram-se na cidade a Sociedade Algodoeira Nordeste do Brasil (Sanbra) e as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. Arantes (2001, p. 149) registra que em 1948, Murchid Homsi inaugurava o Cotonifício Rio Preto, “uma grande fábrica para produzir e exportar plumas em fio de algodão para a Argentina”. A inauguração foi no dia 17/01/1948, e contou com a presença de vereadores e do prefeito Cenobelino de Barros Serra. Murchid Homsi administrava, no início dos anos 50, um conglomerado de 10 empresas.

Figura. 2.2. Rio Preto (Década de 40)
Fonte: Lodi (2009)




















Uma bela descrição deste “intelectual orgânico” foi feita por Gomes (1975, p. 400-401). Como havíamos afirmado, este empresário nos permite problematizar as questões relativas aos “intelectuais e a organização da cultura”, especialmente dos libaneses em Rio Preto. Neste sentido, o “intelectual orgânico” da construção do patrimônio agroindustrial de Rio Preto é Murchid Homsi (1895-1959). Conforme relata Gomes (1975, p. 400-401), Murchid Homsi nasceu em 25 de outubro de 1895, em Hasbaya, no Líbano[3], filho de Ibrahim Homsi e Maria Bauab Homsi. Veio para o Brasil em 1910, estabelecendo-se em José Bonifácio (SP), como comerciante, onde foi o maior fornecedor dos lavradores da região. Nessa cidade, deixou marcada a sua passagem através de uma obra de grande significação econômica, qual seja, a abertura de uma estrada carroçável de 20 kms ligando José Bonifácio a Rio Preto.

Ainda segundo Gomes (1975, p. 400), em 1923, transferindo-se para Rio Preto, dedicou-se ao comércio e à agricultura e, posteriormente, ao ramo industrial. No comércio e na agricultura, dominou os ramos do café, algodão, cereais, os quais produzia, beneficiava, comprava, vendia e exportava. Para fins agroindustriais, fundou as seguintes empresas: com seus irmãos, Homsi Irmãos - Indústria e Comércio Agrícola S/A, e com outros: Homsi, Reverendo Vidal S/A, Cia. Rio Preto de Armazéns Gerais, Sociedade Algodoeira Rio Preto Ltda, Beneficiadora Paraná Ltda., Sociedade Rio Preto de Café Ltda, e Cia. de Melhoramentos do Muquilão. O autor Gomes considera Murchid Homsi o pioneiro da industrialização de Rio Preto: “foi ainda o pioneiro da industrialização de Rio Preto, onde fundou com outros companheiros: Cotonifício Rio Preto S/A, Curtume Rio Preto Ltda., Lacticínios Rio Preto Ltda., Pastifício Rio Preto S/A e Sociedade Têxtil Rio Preto S/A” (Gomes, 1975, p. 401).

Figura. 2.3. Indústria de Fiação de Seda de 
Medlij & Homsi em Rio Preto (Década de 40)
Fonte: Lodi (2009)
















A questão da “organização da cultura”, sob uma perspectiva gramsciana (Gramsci, 2001), pode ser observada na impressionante trajetória deste empresário. Segundo Gomes (1975, p. 401), Murchid Homsi no “setor social” (sic) ligou-se a todas as instituições existentes em Rio Preto, tendo sido fundador de muitas delas entre as quais a Associação Comercial, Industrial e Agrícola, (da qual foi seu tesoureiro por muitos anos); o Clube Monte Líbano (seu presidente honorário e o principal artífice da construção da atual sede); o Rotary Clube (tesoureiro em diversas gestões) e sócio-fundador do Jockey Clube. Ainda conforme relata Gomes (1975, p. 401), no “campo assistencial” (sic), foi tesoureiro e Provedor da Santa Casa de Misericórdia por mais de 10 anos, “tendo solucionado o problema de abastecimento de água dessa instituição”. A Legião Brasileira de Assistência foi presidida por sua esposa Geny Guraib Homsi durante muitos anos, a qual ampliou a ação assistencial dessa instituição. Enfim, Gomes (1975, p. 401) revela o intelectual organizador da cultura da seguinte forma:

Ligou-se e deu seu apoio também a todas as instituições assistenciais da cidade. Em janeiro de 1958, por decreto do Presidente do Líbano, Camille Chamoun, recebeu na Chancelaria da Embaixada do seu país, no Rio de Janeiro, o título de Cônsul Honorário do Líbano. Antes mesmo de haver sido nomeado Cônsul Honorário era tido no mais alto conceito e consideração no seio da comunidade libanesa. Todos o consideravam um símbolo venerável da Pátria, amigo, generoso e desprendido, verdadeiro esteio da antiga Coligação Libanesa, hoje transformada no Clube Monte Líbano. Murchid Homsi era brasileiro naturalizado. Por seu intermédio e sua alta consideração, grandes homens de empresa se ligaram a Rio Preto, como Adib Chamas, Nassib Mattar, Carlos Jafet e Elias Saad, tanto no setor econômico como participando em obras assistenciais da cidade. (GOMES, 1975, p. 401).

Figura. 2.4. Clube Monte Líbano em Rio Preto 
(Década de 70)
Fonte: Demian (2009)















Retomando as questões das políticas públicas para a industrialização no sentido de corroborar o sincronismo da história econômica brasileira com a história econômica de Rio Preto apontado anteriormente, Lodi (2009) afirma que a partir de 1945, o movimento político-militar de 1930 em oposição às velhas oligarquias regionais, “finalmente chega a Rio Preto”. A autora relata que depois de 1945, sob o impacto causado pela Segunda Guerra Mundial, as atividades da cafeicultura e da pecuária começam a perder terreno para a indústria. Devido à ausência do produto no mercado interno, provocada pelo conflito internacional, as pequenas oficinas existentes na cidade, durante a guerra, esforçaram-se em oferecer melhor qualidade em seus produtos. Ao setor industrial se direcionaram os capitais locais, contribuindo para o desenvolvimento de diversos ramos do “Parque Industrial” em formação. A autora mostra que ao poder público coube incentivar as empresas privadas a implementar as indústrias de base através da doação de terrenos, isenção de impostos e subsídios. Em síntese, Lodi (2009, p. 8) afirma que,

O desenvolvimento industrial se inicia efetivamente nos anos 40 com a instalação da Swift, da Sanbra, da Matarazzo e do Cotonifício Rio Preto. A partir de então, a cidade assiste à expansão industrial responsável por alterações de forma significativa de seu perfil e as transformações da economia provocaram mudanças significativas nas funções estabelecidas para o urbano. Conseqüentemente, ocorreu o incremento da urbanização e a formação de um contingente urbano, ansioso por empregar sua força de trabalho em novas atividades econômicas, não só na indústria como também no setor de serviços. Existiam no município 240 indústrias leves que empregavam o capital de Cr$ 20.354.400,00, com 1.183 operários e consumia 704.206 kwa de força motriz. (LODI, 2009, p. 8).

Figura. 2.5. Edifícios Abandonados de um Complexo 
de Laticínios em Rio Preto (Década de 50)
Fonte: Villela (2010)
















3. Desafios das Políticas de Preservação do Patrimônio de Rio Preto: A Memória do Lugar

Como considerações finais, apresentamos os desafios das políticas de preservação do patrimônio agroindustrial de Rio Preto. Hoje a principal política de preservação do patrimônio de Rio Preto está focada na revitalização do complexo da Swift (cf. Guareschi; Villela, 2010). O projeto de restauro, com diversos profissionais envolvidos, faz parte das diretrizes do Plano Diretor para desenvolvimento de Rio Preto. Esta diretriz prevê a transformação do conjunto arquitetônico da Swift em um Centro Cultural, compatibilizando o projeto arquitetônico desenvolvido pela Secretaria da Cultura do Estado com o projeto urbanístico do “Parque da Represa”, dotando a cidade de uma grande área com equipamentos ao lazer, cultura e recreação da população. Esta diretriz segue o princípio de preservação do “patrimônio ambiental urbano”, conforme as considerações de Castriota (2009, p. 89) e prevê a satisfação das necessidades das crianças, dos jovens e dos adultos, no âmbito das competências do município.

O espaço da Swift constitui-se como uma proposta intersetorial, somando a atuação de diversas áreas, tais como, meio ambiente, educação, emprego e renda, participação popular, desenvolvimento local, saúde, cultura, esporte e lazer, inspirados na concepção de “equipamento urbano agregador da comunidade”. A proposta de revitalização possui uma visão educadora que pode se estender por toda a cidade. A Swift pode se tornar um espaço de organização e de apoio dos sujeitos sociais na afirmação de direitos e de promoção da cidadania. Entretanto, a cidade dispõe de inúmeras possibilidades educadoras. Os diversos edifícios do patrimônio agroindustrial de Rio Preto poderiam constituir-se em espaços culturais de aprendizagem permanente. Trata-se da idéia da cidade como espaço de cultura educando, promovendo e desenvolvendo o protagonismo de todos: crianças, jovens, adultos, idosos (cf. Gadotti; Padilha; Cabezudo, 2004). Nesse sentido, o patrimônio agroindustrial de Rio Preto poderia constituir-se em espaços “intencionalmente” educadores.

Por fim, um conceito fundamental que poderia funcionar como uma espécie de “condensador” das diversas perspectivas de preservação do patrimônio agroindustrial é o conceito de “Memória do Lugar” desenvolvido por Hayden (1997). A autora mostra que se a memória social depende da narração para sua continuidade, a paisagem urbana também poderia contribuir através da “memória do lugar" que seria uma persistência estabilizadora do lugar como um contenedor de experiências que contribui tão poderosamente para a sua memorabilidade intrínseca. A autora defende que uma memória alerta e viva se conectaria com o lugar, encontrando nele traços que favorecem e se desenvolvem paralelamente às suas próprias atividades. Tal fato leva a autora a afirmar que a memória seria “naturalmente orientada em relação a lugares ou, pelo menos, suportada por lugares”.

Segundo nosso ponto de vista, pesquisadores como Gomes (1975), Arantes (2001), Brandi (2002), Fernandjes (2008), Lodi (2009), Demian (2009), Bitar (2010), Challita (2010), entre outros, nos ajudam a recuperar a “Memória do Lugar”. A “Memória do Lugar” é a capacidade humana de se conectar tanto com o ambiente natural quanto com o construído, que estão ligados em idéias como as de “paisagem cultural” e de “patrimônio ambiental urbano”. Esse conceito poderia “condensar” as políticas de preservação do patrimônio de Rio Preto. Segundo Hayden (1997), a “Memória do Lugar” poderia ser a chave para o poder dos lugares históricos em ajudar os cidadãos a definir o seu passado comum. Os lugares podem despertar memórias naqueles que compartilham um passado comum, enquanto, ao mesmo tempo, podem representar passados também para “estrangeiros” que estejam interessados em conhecer com eles o presente. A idéia de “Memória do Lugar” aparece como uma idéia poderosa para se ligar os diversos campos da preservação do patrimônio agroindustrial de Rio Preto, possibilitando, ainda, a preservação da memória da imigração de sírios e libaneses para o Brasil e a atuação de intelectuais orgânicos, como o libanês Murchid Homsi. Enfim, preservar a memória do lugar, contando as muitas histórias do sertão paulista.

Referências Bibliográficas

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[1] A imigração dos sírios e libaneses em Rio Preto começou, segundo Fernandjes (2008), no final do século XIX e se intensificou no início do século 20. Ao entrevistar o sírio radicado em Rio Preto, Hayssam Mohamad Akad, a autora revela que a Síria e o Líbano, integravam a Liga Árabe, aprendiam a cultura, eram chamados de “árabes” e foram dominados pelo regime turco. Para deixar a terra natal, as pessoas precisavam obter um passaporte “turco”. O entrevistado afirma que: “o povo estava justamente fugindo dos turcos e quando chegava no Brasil, devido ao passaporte, era chamado de “turco”. Ainda segundo Fernandjes (2008), as pessoas vendiam todos os bens que possuíam para zarpar em navios cargueiros, em busca de liberdade, paz e fortuna. Os imigrantes que chegaram no Brasil começaram a mascatear, no interior do Estado, para negociar em fazendas, sítios e colônia. Fernandjes (2008) relata que foi assim que os primeiros “árabes” (sic) chegaram em Rio Preto em 1890, quatro anos antes da criação do município. Segundo a autora, “após juntar um pouco de capital, os ‘árabes’ (sic) abriam uma loja e recebiam seus patrícios, que seguiam os mesmos passos no comércio até conseguir fortuna, mascatear era tão rentável a este povo que uma das primeiras ações da Câmara Municipal de Rio Preto foi aumentar as taxas para inibir o comércio ambulante. Em abril de 1896, o Legislativo determinou a cobrança de imposto no valor de um conto de réis por caixa. A taxa era exorbitante, já que o salário do prefeito era de um conto e duzentos mil réis”.
[2] Fernandjes (2008) afirma que os “árabes” (sic) derrubaram a concorrência dos mascates portugueses e italianos com vendas a prazo e respeito à palavra do consumidor (que se comprometia a pagar sem a necessidade de notas promissórias). Para a autora, “a confiança depositada nos ‘fregueses’ e a visão futurista para o comércio fizeram o sucesso deste povo, que marcou história na cidade”. Segundo dados de Fernandjes (2008), a partir de 1913 começou a imigração em massa e, neste ano, foram registradas 11.101 entradas no Brasil. Em 1920, a população “árabe” (sic) era de 50.337, sendo 19.285 no Estado de São Paulo. A autora mostra dados do Censo de 1920 onde existiam 730 árabes em Rio Preto. Ao entrevistar Tarek Sarout, informa que a região noroeste recebeu o segundo maior número de imigrantes sírios e libaneses, perdendo apenas para a capital e que em 100 anos, Rio Preto, Onda Verde, Nova Granada, Palestina e o Triângulo Mineiro, praticamente foram habitadas por uma região só do Líbano – o Vale do Bekaa. Por fim, Fernandjes (2008) informa que as primeiras famílias que chegaram no município foram Ajdar, Arif, Azem, Barcha, Bassitt, Buchala, Buzaidi, Calil, Chalela, Cury, Daud, Fahad, Fauaz, Gorayeb, Haddad, Hawilla, Homsi, Jamal, Kfoury, Madi, Mahfouz, Mitaini, Mussi, Muanis, Naffah, Rahad, Raduan, Scaff, Suriani, Tarraf, Taufic e Younes e que, atualmente, mais de 20% da população de Rio Preto é formada por descendentes de sírios e libaneses.
[3] Para uma visão libanesa de “quem é árabe” entrevistamos o descendente de libaneses, Jorge José Bitar, o qual diferencia, da seguinte maneira, “árabes”, “sírios” e “libaneses”: os árabes se constituem por 22 países independentes do Oriente Médio e África. Segundo a tradição bíblica, os árabes descendem de Ismael, filho do Patriarca Abraão com Agar. Abraão também gerou Isaac, com a esposa Sara, de quem descendem os hebreus, povo do qual nasceu o Messias Jesus Cristo. Ambos os povos, árabes e hebreus, são de origem semítica, ou seja, filhos de Sem, o filho de Noé. O entrevistado afirma que é interessante destacar que através de exame de DNA comprovou-se cientificamente, que antigos árabes e hebreus de Jerusalém descendem do mesmo pai com duas mães. Para esta região imigraram os árabes da Síria, os sírios, país que já concedeu 4 Papas para o Trono de São Pedro e que tem a capital mais antiga do mundo, Damasco, com mais de 10 mil anos. Aqui fincaram suas raízes também, os árabes do Líbano, os libaneses, país do Cedro Sagrado, 72 vezes citado na Bíblia. Os libaneses se orgulham por descender dos fenícios, os grandes navegadores da Antigüidade e precursores do alfabeto fonético, que conforme alguns historiadores aportaram o Brasil, há mais 2.000 anos antes de Cabral chegar com suas caravelas (BITAR, 2010). Para uma visão complementar de “quem é árabe”, sugerimos o texto de Challita (2010).


O SEGREDO DA PRAÇA "JORNALISTA LEONARDO GOMES"

terça-feira, 10/05/2011
Autor: Max Pimenta
Revisão: Alexandre Caprio

São muitos os motivos que fazem com que as gerações mais novas desconheçam os nomes oficiais de várias obras públicas e monumentos da nossa cidade.

Normalmente algum apelido o torna mais popular, facilitando o reconhecimento e até mesmo a orientação das pessoas para esses locais.

A Praça Jornalista Leonardo Gomes é um desses casos. Recebeu seu nome de batismo em homenagem a Leonardo Gomes, vereador em 1955 e diretor do extinto jornal “A NOTÍCIA” de 1936 a 1970.


Figura 1 – Praça Jornalista Leonardo Gomes.











Fonte: GOOGLE (2011).


A praça foi inaugurada em 21 de Novembro de 1980, na gestão do prefeito Prof. Adail Vetorazzo, mas foi idealizada alguns anos antes pelo então prefeito Dr. Wilson Romano Calil (gestão 1973-1976). É também o Centro Cultural Professor Daud Jorge Simão. O Centro abriga a Biblioteca Dr. Fernando Costa, o Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva (MAP), a Pinacoteca e a Secretaria Municipal de Cultura.

Como lembra o fotógrafo Toninho Cury, polêmicas para a execução do projeto do Centro Cultural não faltaram. “Quando prefeito, o médico Wilson Romano Calil via na baixada rio-pretense, hoje Praça Cívica, um local problemático, sujo, ruas irregulares de terra, no nível do leito do rio, enfim, sem solução de restauro”. Mas, segundo ele, Calil era homem inteligente e destemido. “Não pensou duas vezes e teve a idéia de jogar tudo para baixo. Convocou todos os proprietários dos imóveis da baixada e propôs trocá-los por lotes da avenida Nossa Senhora da Paz, hoje Alto Alegre, Jardim Bordon e Vale dos Esportes (Teixeirão). Ele foi claro: ‘A Prefeitura não tem dinheiro, tem lotes. Aqui é brejo, lá é alto. Se houver algum proprietário contrário, nada feito. Não vou desapropriar, demandar ou forçá-los a nada’.

A estratégia, conta Cury, funcionou. “Hoje temos uma praça bem acima do nível do rio. É fácil administrá-la. Tem asfalto, esgoto e iluminação, coisa que na época da baixada não existia”.

De acordo com o projeto original apresentado em 1975, o valor orçado para a Praça Cívica era de 80 milhões de Cruzeiros, e teria 18.000m.² de área construída incluindo a Biblioteca, Museu Histórico e de Arte Contemporânea, Concha Acústica, Pira e Centro Comercial em edifício de 15 andares!


Figura 2 – Maquete da Praça Cívica: Projeto completo.










Fonte: GOMES (1975).


Faria parte do complexo, a “Praça dos Três Poderes”; onde se instalariam Fórum, Prefeitura e Câmara Municipal em três grandes edifícios. Todas as manifestações cívicas lá iriam se concentrar, coisas comuns no regime militar.

No projeto original, existiam breezers com ar condicionado central e vidros à prova de som e calor. Wilson não concluiu a obra, passando a prefeitura ao Prof.Adail Vetorazzo. O novo prefeito viu no projeto um alto custo, transformando-o apenas em centro cultural e biblioteca.

Parte do projeto de José Gonçalves Toscano destaca-se até hoje no cenário de Rio Preto devido ao seu formato inusitado "uma aranha". No entanto, a obra em sua totalidade é praticamente desconhecida pelos rio-pretenses.


Figura 3 – Construção da primeira (e única) fase do projeto de Gonçalves.
















Fonte: CURY



Figura 4 – Vista atual da Praça jornalista Leonardo Gomes


















Fonte: GOOGLE EARTH (2011).


Sozinha, a única estrutura construída do projeto original adquiriu um rótulo atribuído pelo senso comum da população de ‘aranha’. O formato do prédio sem o restante da obra original acaba, de fato, facilitando tal interpretação.


Figura 5 – Prédio aranha.















Fonte: GOOGLE IMAGENS (2011).


De acordo com Pimenta (2011), existe a possibilidade da obra original conter um segredo arquitetônico. Se o projeto original pudesse ser visto de cima, a forma de aranha se desfaz, dando lugar a uma estrela. O longo prédio central forma uma cauda curva e a concha acústica, o final de uma grande estrela cadente no centro de São José do Rio Preto.



Figura 6 – Montagem onde a maquete é sobreposta em imagem de satélite, dando idéia de como seria a praça caso a obra tivesse sido concluída.


















Fonte: GOOGLE EARTH; PIMENTA (2011).



Figura 7 – Montagem do projeto original com decoração feita através de iluminação pública. No destaque, em ângulo perpendicular, a antiga aranha transforma-se em uma grande estrela com cauda de mais de 200 metros, iluminando a cidade de São José do Rio Preto.


















Fonte: GOOGLE EARTH; CAPRIO & PIMENTA (2011).


Embora caro, o projeto teria uma incrível beleza e daria a todos aqueles que voassem nos céus de nossa cidade uma imagem de encher os olhos.

REFERÊNCIAS:
GOMES, Leonardo. Gente que ajudou a fazer uma grade cidade. Rio Preto, Editora Gráfica São José , São Paulo, 1975.
DiarioWeb: www.diarioweb.com.br
Biblioteca Municipal: a casa do saber
Por Marival Correa – 19/03/2006
Conheça : ilustres desconhecidos de Rio Preto
Por Elton Rodrigues – 27/03/2011
Blog Edvaldo dos Santos - www.edvaldosantos.com.br
Artigo “Biblioteca Municipal” 13/03/2010
Site Toninho Cury - www.toninhocury.com.br




Memória
Nossas ruas

Fonte: http://www.diarioweb.com.br/noticias/corpo_noticia.asp?IdCategoria=208&IdNoticia=91666São José do Rio Preto, 6 de abril de 2007 
  Arquivo  
Trecho da rua Tiradentes, entre as ruas General Glicério e Bernardino de Campos (1927-29)

Nilce Lodi


“É o povo, o dono das ruas, quem as devem batizar; deixem que o faça”.

Hoje os nomes das ruas de Rio Preto, como na maioria das cidades brasileiras, estão divididos nas categorias de: nomes de personagens e acontecimentos históricos, municipais, estaduais, nacionais ou internacionais; nomes de países, Estados, cidades, rios ou outros acidentes geográficos; nomes de flores, pedras preciosas, de árvores, de animais. Encontramos uma mescla muito variada de nomes de ruas homenageando personagens da história local. Nomes de políticos, comerciantes, profissionais liberais, educadores, filantropos, militares e antigos moradores que deram sua contribuição ao desenvolvimento da cidade. Para a população atual, quase sempre são apenas nomes desconhecidos, pois com o tempo sua biografia e feitos foram esquecidos.

No ínício, o então bairro de Rio Preto, pertencente ao município de Araraquara, era cortado por duas estradas boiadeiras, uma vinda do Minas e Goiás, outra do Salto do Avanhandava. Depois se direcionavam para centros maiores. Eram simples estradas que acabaram por denominar seis ruas com o nome de cidades da região como Barretos, Jaboticabal, Ibitinga, Sant’Anna do Paranayba, Pedras e Taboado. À ruas outras deram os nomes de cursos d’água da cidade, como rua Borá, Canela e Rio Preto.



Arquivo
Trecho da rua Antônio Olympio a partir da rua marechal Deodoro (1929) 

Lei autoriza emplacamento em 1928
No mesmo ano, 1928, o vice-prefeito Cenobelino de Barros Serra, promulga a lei nº 681, de 3 de outubro, que autoriza completar o emplacamento das ruas e a numeração dos prédios. Segundo a lei, a numeração par será nos prédios ao lado direito das ruas, considerado este a partir do centro da cidade, e a ímpar, do lado oposto. Define também que o centro da cidade é a praça ocupada pela Igreja Matriz e pelos Jardins Velho e Novo, passando a praça central a denominar-se praça São José. Em seu artigo 4º, estabelece profundas alterações na denominação das ruas da cidade:
1. A rua Antonio Olympio passa a começar na praça São José, esquina onde está o Banco Comercial, e termina na praça Barão de Rio Branco.
2. A rua Bernardino de Campos passa a começar na praça São José, esquina onde está o Banco do Brasil, e termina na praça Barão de Rio Branco.
3. A rua Jorge Tibiriçá passa a começar na praça São José, esquina onde está o Banco do Brasil.
4. A rua Plínio de Godoy passa a começar na praça São José, esquina onde está o prédio presentemente ocupado pela Câmara
5. A rua Tiradentes passa a começar na praça São José, esquina da Farmácia Dória.
6. A rua Prudente de Morais passa a começar na praça São José, esquina do Cinema Capitólio.
7. A rua Sete de Setembro passa a começar na praça Barão de Rio Branco.
8. A rua Deodoro da Fonseca passa a começar na praça Barão do Rio Branco.
9. A rua que vai da praça Barão do Rio Branco, esquina da rua Sete de Setembro, à estrada de Borboleta, fica denominada Ruy Barbosa.
10. A rua que vai da praça Barão do Rio Branco, paralela à rua Ruy Barbosa, à rua Independência, fica denominada Engenheiro Ugolino.
11. A rua que vai da praça Barão do Rio Branco, esquina da rua Engenheiro Ugolino, ao córrego Canela fica denominada Santos Dumont.
12. A rua que segue da praça Barão do Rio Branco, esquina da rua Antonio Olympio, passando o córrego Canela, fica denominada Itapura.
13. A rua que segue da praça São José, esquina da Casa Paroquial, passando pelo Canela, fica denominada rua Padre José Bento.
14. A rua que vai da praça São José, esquina da rua Antonio Olympio, à estrada dos Macacos, fica denominada rua Capitão João Bernardino.
15. A rua que vai da praça São José à rua Antonio de Godoy fica denominada Jaboticabal
16. A rua que vai da praça São José à rua Antonio de Godoy fica denominada Araraquara.
17. A rua que vai da praça São José à estrada de ferro (estação) fica denominada Barão de Mauá.
18. A rua que vai da praça São José, esquina da rua Prudente de Moraes, ao Cemitério Velho fica denominada Rua dos Campos Elyseos.
A denominação das ruas centrais, contidas nesta lei, não tiveram muito tempo de duração. Foram revogadas pelos problemas criados.
A história do nome das ruas é uma história miúda e, em alguns aspectos, divertida. Ela porém nos ensina que os nomes impostos não pegam.
Arquivo
Trecho da rua General Glicério a partir da rua Tiradentes (1927-1929) 

Cidade cresce em 1912 
A partir de 1912, a cidade cresce em ritmo acelerado até 1929. Os dados oficiais registram que, em 1912, Rio Preto teria 1,2 mil habitantes e não mais que 200 prédios. Em 1928, a cidade contava com 40 ruas principais, três jardins, duas praças, 12 casas comerciais, 35 máquinas de benefício de café e arroz, 10 oficinas mecânicas, sete serrarias e algumas indústrias que fabricavam gelo, bebidas, salames, presentes, xaropes e laticínios. Tinha também três cinemas, 16 hotéis e várias pensões. Em 1929, o Álbum Illustrado da Commarca, de Abílio Abrunhosa, informa que havia 22,7 mil habitantes e 3.150 prédios.

Em 1928, foi elaborada uma nova planta cadastral da cidade pelo engenheiro civil F.A.Moraes Barros. Nela, figurava a Vila Ercília com 12 ruas, sendo sete na horizontal e cinco perpendiculares. A Vila Bom Jesus localizava-se entre o prolongamento das ruas Marechal Deodoro e Jorge Tibiriçá, ambas com pontes cruzando o córrego Canela; entre elas; o prolongamento da Silva Jardim, sem ponte. Além do rio Preto, havia quatro ruas com algumas travessas que terminavam no então Cemitério Velho.
Arquivo
Trecho da rua Tiradentes (1927-1929) 

Os velhos nomes das vias tinham o seu encanto
As primitivas ruas de Rio Preto tinham predominantemente nomes de santos. No final do século 19, havia sete com os nomes de: Nossa Senhora do Carmo, Conceição, São Pedro, Santa Cecília, Santo Antônio, São Vicente e São João. Outras recebiam do nomes de seu morador mais importante, líderes da comunidade, como as ruas Pe. José Bento da Costa, Luiz Antonio da Silveira e João Bernardino de Seixas Ribeiro. Algumas receberam denominações variadas: rua da Alegria, da Fartura, das Flores. Quando o município foi criado em 1894, a cidade registrava 72 casas na Vila, estando 14 na Boa Vista, 13 na rua do Comércio, 6 na rua da Fartura, 4 na Pedro Amaral, 4 Prudente de Morais. As demais espalhavam-se por outras ruas. O Código de Posturas de 1902 dava à Câmara Municipal a atribuição de nomear as ruas.

Dois anos mais tarde, os membros da Câmara decidiram, com a lei municipal nº 17, substituir as denominações de 16 das antigas ruas, batizando-as com nomes de políticos da República Velha, por exemplo: Silva Jardim, Jorge Tibiriçá. O mesmo ocorreu com as praças. A antiga rua da Alegria passou a denominar-se Luiz Antonio da Silveira, que se conserva até hoje, no bairro Boa Vista. A rua Jaboticabal passou a chamar-se Tiradentes; a Barretos, 15 de Novembro; a Ibitinga, Saldanha Marinho; a Sant´Anna do Paranayba, Marechal Deodoro; a Pedras, Rubião Júnior; a Fartura, General Glicério; a São Pedro, Jorge Tibiriçá; a Santa Cecília, Sete de Setembro (e mais tarde, em 1935, rua Delegado Pinto de Toledo); a Borá, Benjamin Constant; a São Vicente, Plínio de Godoy, posteriormente Siqueira Campos; a Santo Antônio, Silva Jardim; a Rio Preto, Floriano Peixoto; e a Canela, Antonio de Godoy.
Os velhos nomes tradicionais tinham seu encanto, porém nem esses nomes foram mais duradouros.




Vila Maceno, o 'lar' do Cristo
Fonte: http://www.diarioweb.com.br/noticias/imp.asp?id=90857
São José do Rio Preto, 18 de Março de 2007
  Arquivo  
Do alto da Maceno, o Cristo abraça a cidade; à direita, a inauguração

Marival Correa
Não por acaso, o Cristo Redentor de Rio Preto acolhe a todos, de braços abertos, do alto da Vila Maceno. O bairro foi palco de um dos primeiros registros fotográficos da cidade, na primeira metade do século passado. O instantâneo é de autoria de Theodoro Demonte, um dos idealizadores do Álbum Ilustrado da Comarca de Rio Preto (1927- 1929), que foi o primeiro trabalho de marketing para divulgar o município. Conforme consta do subtítulo da própria obra, tratava-se de “propaganda regional do Estado de São Paulo: Zona Araraquarense, assumindo um caráter de representatividade da cidade para o resto do Estado”. O local escolhido para instalar o Cristo é representativo da fase inicial de Rio Preto.

É neste local emblemático que está assentado um dos cartõespostais de Rio Preto. Foi o então prefeito Alberto Andaló que, em 1957, decidiu construir uma réplica do Cristo Redentor do Rio de Janeiro como forma de homenagear a cidade. A Vila Maceno, na zona leste da cidade, foi o bairro escolhido. A área é considerada um dos pontos demográficos mais altos em todo o perímetro urbano. A réplica foi encomendada à empresa Papaiz & Cia., de Campinas. Ivo Papaiz, filho do artesão Otaviano, propagador das réplicas do Cristo carioca por todo o País, conta que a imagem trazida a Rio Preto foi uma das primeiras das mais de 200 desenvolvidas sob encomenda pela empresa para prefeituras.

Segundo Ivo, a montagem doCristo é trabalho simples, que não dura mais que um mês. As peças são comercializadas sempre acompanhadas de um guia de instrução. Para a estátua de 8 metros, que consome 20 sacos de cimento na fabricação, são enviadas 51 peças. Acima de 12 metros, a exemplo da réplica rio-pretense, utiliza-se mais de 75 sacos de cimento que resultam em 145 peças. A tarefa de estruturar e finalizar o Cristo Redentor foi concedida ao engenheiro italiano Dante Andreoli, que teve ajuda do mestre-de-obras da Prefeitura, Rubens Bonvino. O processo durou quatro meses.

Já estava quase pronta, quando o excesso de chuvas colocou a estátua no chão. O escoramento de madeira da estrutura rompeu-se, derrubando parte da réplica que teve de ser reconstruída. “A estátua inclinou para um dos lados e desabou. Porém, o problema foi corrigido a tempo”, relembra o filho de Andreoli, Sílvio, também engenheiro. “Trabalhamos dia e noite para reconstruir tudo e a obra ficou pronta no final de dezembro”, diz Bonvino, 75 anos, hoje aposentado. No dia 24 de dezembro de 1957, o prefeito Andaló inaugurava a réplica, com 15 metros e 30 centímetros de altura, do pedestal ao cume. Já os braços abertos medem 11 metros e 20 centímetros.

Romarias e pedidos
Quatorze anos após ter sido construído, o Cristo Redentor foi alvo de peregrinações e romarias. Em abril de 1971, gotas de água que caíam das mãos e braços da estátua ganharam fama de milagrosas. Não demorou para que centenas de fiéis, inclusive da região, iniciassem peregrinação até o local com copos e canecas para coletar um pouco do liquído. O professor Agostinho Brandi, que lecionava história na escola Alberto Andaló, uma quadra abaixo do Cristo, lembra da peregrinação. “Era um movimento sem fim”, diz. Teria sido uma estudante, Maria de Fátima, a autora da descoberta do suposto fenômeno. Em uma noite, ela estava na pracinha do Cristo com algumas colegas quando percebeu cair-lhe algumas gotas d’água.

Não chovia, nem fazia mau tempo. Ela olhou para a estátua, e o suposto fenômeno das lágrimas foi alardeado. As amigas espalharam a notícia pela escola e pela cidade. Romeiros passaram a acorrer ao Cristo para coletar gotas do líquido a fim de curar enfermidades diversas. Após alguns meses, o engenheiro Romeu Patriani, atendendo a pedidos do prefeito Adail Vetorazzo e do monsenhor Leibenitz Cesário de Castro, responsável pela Catedral, fez uma vistoria na estátua. O laudo demonstrou que a água que pingava das mãos e braços da imagem era proveniente da chuva. O líquido estava acumulado no interior da réplica. E o mistério foi desfeito. Na década de 90, moradores do bairro Maceno resolveram colorir a estátua. Em 2004, a Prefeitura decidiu revitalizar a estátua, que foi pintada de branco e ganhou iluminação especial.

Réplica rio-pretense foi uma das primeiras do País
A primeira réplica do Cristo Redentor do Rio de Janeiro foi desenvolvida peloartesão Otaviano Papaiz, de Campinas, no início da década de 1950. Conhecido criador de imagens sacras, ele inspirou-se na obra carioca para atender a uma encomenda de São José do Rio Pardo.

Depois vieram, na seqüência, Serra Negra, Taubaté, Poços de Caldas-MG e Rio Preto. “Eu era muito moço mas lembro perfeitamente que a de Rio Preto foi uma das primeiras que meu pai fabricou. Lembro dele ter viajado até a cidade para conhecer o local exato onde a imagem seria instalada. Era um trabalho que ele fazia com muito carinho, com a mesma dedicação do início quando executava obras em igrejas como o altar e o capitel (coluna)”, afirma Ivo Papaiz, filho do artesão. A fama não demorou a espalhar-se. O boom na fabricação das peças veio após o golpe militar de 1964. “Não sei exatamente a razão, mas a partir daí surgiram encomendas praticamente dos quatro cantos do País, principalmente de pequenas cidades”, conta seu Ivo.

O fenômeno chegou à região e vários municípios também passaram a ostentar em suas entradas a estátua do Cristo. Seu Ivo tem catalogadas todas as réplicas que a empresa confeccionou. São 250 ao todo, incluindo lugares distantes de Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e até do Amazonas. Resultado da técnica que o pai trouxe de San Vito Al Tagliamento, na Itália, para Campinas onde, em 1925, fundou a Papaiz & Cia. - Imagens Artísticas. Apesar de todo sucesso alcançado com as estátuas do Redentor, seu Ivo diz que decidiu encerrar a atividade. “Dá muito trabalho lidar com prefeituras, é muita burocracia. Hoje sigo apenas com a marmoraria, mas procuro conservar o legado da arte deixada por meu pai”, diz.

Prefeito Andaló
A decisão de erguer em Rio Preto uma réplica do Cristo Redentor ‘carioca’ foi apenas uma das muitas marcas deixadas pela administração de Alberto Andaló. Para que o município chegasse ao porte atual se fez necessária a mão de um grande administrador. A mão capaz de fazer valer, na prática, o título de capital da Alta Araraquarense que Rio Preto alcançada em meados da década de 1940. E foi justamente com a posse de Andaló, em 1955, que Rio Preto começou a adquirir as feições que tem hoje. Como estrategista, soube imprimir um ritmo acelerado à administração, contando com pessoas capacitadas. Colocou na chefia do gabinete seu irmão de maçonaria Vicente Filizola. E por meio de seu amigo Lino de Matos, prefeito paulistano, ele conseguiu trazer a Rio Preto o urbanista Heitor José Eiras Garcia, que elaborou um Plano Diretor e uma Lei de Zoneamento que possibilitaram modernizar os aspectos urbanos do município. Deve-se a ele também: a instalação do Corpo de Bombeiros, Instituto Adolfo Lutz, aeroporto e primeiras casas populares, entre outras obras.






Estação de trem: paralelas de metal
São José do Rio Preto, 19 de março de 2006 
  Carlos Chimba  
Na estação de trem da EFA saíam e chegavam os trens de passageiros

Marival Correa

“Queria que surgisse um trem tão barulhento, que despertasse minha infância/ele tão desengonçado, sujo, carregando a poeira da viagem/transformando em cinza o céu de Rio Preto/alegre a dançar sobre os carris/e o maquinista, o senhor que do trem tudo sabe/ forte e que sorri para as crianças que param para contemplar/algo que veio esquentando a graxa/trazendo um perfume de óleo diesel que eu nunca mais vou encontrar....meu amor eterno às ferrovias/saudades da Araraquarense/é uma pequena parte, do tudo que tive/ah, que saudade, o bilheteiro correndo no corredor a gritar: ‘a próxima parada’/no Brasil, até as pequenas coisas eles nos tiram”. Os versos são de um paulistano unido a Rio Preto por duas paixões: a estrada de ferro e o time do América. Trata-se do artista plástico Ricardo Mantova, que traduz de forma emotiva o que representa um dos marcos na história da cidade. A linha férrea é o que divide a Rio Preto do sertão e da floresta da Rio Preto urbana e desenvolvida.

Em 9 de maio de 1912, o futuro de Rio Preto começou a mudar oficialmente. O som da locomotiva marcava o começo de uma página dourada da história da cidade. As portas do progresso estavam abertas. A chegada dos trilhos e a instalação da Estação Ferroviária Araraquarense (EFA) conferiram a Rio Preto o status de ponta de linha - última parada antes do regresso - e impulsionaram a economia local. O gigantismo das locomotivas chamadas de Maria Fumaça colocava Rio Preto no rol de cidades com potencial de desenvolvimento. “A EFA foi responsável por receber muita gente importante, empreendedores e representantes de insti- tuições que contribuíram para que a cidade atingisse o nível de desenvolvimento de hoje”, diz o secretário de Planejamento Orlando Bolçone. Para se ter idéia do fluxo de pessoas na cidade, entre os anos de 1921 e 1927 o principal meio de transporte da época registrou a venda de 1,56 milhão de bilhetes de primeira classe e outros 4,65 milhões de segunda classe.

Prova de que o presente repete o passado é uma das recordações do aposentado Antônio José Parra. Ele conta que em 1956 uma “tromba d’água” quase levou a cidade a uma crise financeira. “Com a forte chuva, o armazém dos grãos e diversos outros, além de lojas vizinhas à estação, foram invadidos pela água, que descia como um rio de corredeira pelas ruas centrais de Rio Preto”, conta Parra. Aproximadamente 80% da produção de grãos produzidos nas lavouras locais e da região, prin- cipalmente café, perderam-se. Falar do comboio é tocar fundo na alma rio-pretense. “O que mais tenho saudade é a gente criança, disputando feito louco as janelas dos vagões. Todos queriam sentir o vento no rosto e contemplar as belas paisagens até chegar ao destino final. Minhas roupas sempre ficavam chamuscadas nessas viagens devido às fagulhas produzidas pelo atrito entre a roda e os trilhos, mas nem ligava”, conta o comerciante aposentado Rubens José Gonçalves.

A estação, recorda o comerciante, foi o ponto difusor da ‘nova’ Rio Preto. Além das óbvias mudanças de comportamento trazidas com as máquinas de ferro - mais velozes que os carros de bois, das charretes, dos troles e dos cavalos - a economia passou a caminhar lado a lado com o novo meio de transporte. Como as paralelas de metal que descortinavam a “boca do sertão”, a cidade passou a orientar-se pela estação. O comércio, a vida social, os acontecimentos, passaram a girar a partir da gare. “Basta verificar os hotéis que funcionavam naquela época, o Central, o Términus, o Camarero, o São Luiz, entre outros, todos mais ou menos num raio entre a Pedro Amaral e a Tiradentes. Não por acaso os principais caminhos abertos na região para escoar a produção rural tinham a EFA, em Rio Preto, como ponto de convergência. Caminhos estes abertos em sua maioria por Feliciano Salles Cunha na base do enxadão, picareta e machado. 

Salles Cunha (1879-1953), aliás, presidiu a Companhia de Melhoramentos Rio Preto. A empresa chegou a ter 150 jardineiras e abriu duas estações de embarque e desembarque, em Rio Preto e Mirassol, consideradas as primeiras rodoviárias desses dois municípios e pioneiras também no País. O escritor e pesquisador Ralph Mennucci Giesbrecht - neto do educador e jornalista Sud Menucci, que dá nome a uma cidade da região -, explica que Rio Preto permaneceu como ponta de linha até 1933, exatos 14 anos depois de ter sido estatizada. “Finalmente no início da década de 30 a linha foi prolongada até Gonzaga de Campos (povoado surgido em torno de um embarcadouro de gado e, mais tarde, bairro rio-pretense) e depois Mirassol. Já em 1941 começou a avançar mais rapidamente, chegando à estação Presidente Vargas, em Rubinéia, em 1952, seu ponto final à beira do rio Paraná”. Giesbrecht diz que as obras foram concluídas em 1955, com a ampliação da bitola do tronco para 1,60m, totalmente pronta no início dos anos 60. 

Inicialmente, os trilhos eram assentados em dormentes diretamente na terra. Uma poeira enorme mais as faíscas e fuligem atormentavam a vida dos passageiros. Antes romântica e atraente pela novidade, a viagem passou a ser vista por muitos como um suplício. Com a implantação da bitola larga, com dormentes sobre leito de pedras, o trem tornou-se mais veloz, mais seguro e higiênico. No entanto, o declínio nos investimentos tornou irreversível a degradação das ferrovias. A época dourada foi cada vez mais tornando-se páginas viradas da história de Rio Preto. Em 1971 a empresa foi englobada pela Fepasa, iniciativa insuficiente para estancar a agonia das estradas de ferro. Os trens de passageiros continuaram servindo Rio Preto até o início de 2000, muito longe do glamour de outrora. Já sob o domínio da Ferroban - focada apenas no transporte de carga - o último comboio partiu da estação rio-preense no dia 15 de março de 2001 com destino a Itirapina. Era o último apito depois da curva, o fim de uma era.

Trilhos ‘desafiam’ a cidade
A mesma estrada de ferro que trouxe desenvolvimento para Rio Preto em seus tempos áureos vem trazendo transtornos aos moradores da cidade desde o início da década de 90. Os 20 quilômetros de estrada de ferro, que cortam a zona urbana, hoje oferecem riscos, e não há perspectivas para a retirada dos trilhos. Logo que assumiu a administração municipal, o prefeito Edinho Araújo (PPS) encomendou o estudo de um projeto preliminar ao Ministério dos Transportes para tirar trilhos da zona urbana. O projeto prevê um desvio de 24 quilômetros. As obras envolveriam os municípios de Mirassol e Cedral, ao custo de R$ 25 milhões.


Arquivo
A velha escadaria da Rodoviária era
 uma referência no centro 

Escadaria famosa ‘ressurge’ em miniatura
Demolida juntamente com antigos imóveis das ruas Bernardino de Campos, Pedro Amaral e Voluntários de São Paulo em maio de 1970, para construção da estação rodoviária, em Rio Preto, a escadaria de acesso ao prédio da Estação Ferroviária Araraquarense (EFA) ainda ocupa espaço na memória das pessoas que viveram o auge da era do transporte sobre trilhos. A demolição dos 40 metros de degraus que ligavam a Voluntários de São Paulo à praça Paul Harris causou revolta na época. “A feira permanente que existia no local era um ponto obrigatório para as pessoas que embarcavam no trem. Também era um dos locais preferidos para o passeio dos moradores”, lembra o colecionador Vaelson Taveira Ferraz, que acompanhou todo o processo de demolição da escadaria. Com tanta história para contar, a tradicional escadaria, inclusive, foi palco de um crime, segundo Ferraz.

Na década de 50, o lavrador Aníbal Vieira, que afirmavam ser jagunço, foi acusado de matar um dos policiais que teria abusado sexualmente de sua irmã, portadora de doença mental. Atualmente, enquanto a rodoviária é alvo de críticas quanto à localização, a antiga escadaria de acesso à EFA é tema de inspiração de artistas plásticos. O escultor Roberto Atanázio, 66 anos, concluiu há pouco uma maquete de papelão reproduzindo a escadaria e o universo que cercava os tradicionais degraus. “Brinquei muito lá. Nem sei mais quantas vezes fiquei sentado nos degraus, observando a Maria Fumaça percorrer os trilhos”, diz. Foram mais de três anos para materializar o que hoje é só recordação.
Carlos Chimba
Rodoviária: 8 mil pessoas embarcam 
e desembarcam todos os dias 

Rodoviária polêmica
1973. Enquanto a maquete da nova Catedral é finalizada e a Companhia Telefônica de Rio Preto dá os últimos suspiros antes de ser encampada pelo governo estadual, a cidade inicia o ano com os olhos voltados para a rua Pedro Amaral, em frente à Estação Ferroviária. No dia 26 de janeiro daquele ano é inaugurada a Estação Rodoviária Governador Laudo Natel. Manhã de festa, comandada pelo ex-prefeito Adail Vettorazzo e acompanhada pelo governador que dá nome à obra. A abertura da nova estação, um contraponto histórico com o declínio da estação vizinha dedicada aos trens, teve um preço acima do material: o valor afetivo de toda uma coletividade. Isto porque o processo para construção da Rodoviária, iniciado em maio de 1970, incluiu a demolição dos antigos prédios existentes entre as ruas Bernardino de Campos, Pedro Amaral e Voluntários de São Paulo.

Apesar de a obra significar progresso para a cidade, o processo de construção não escapou das críticas dos rio-pretenses mais conservadores, como lembra o colecionador Vaelson Ferraz. A extinta praça ficava onde hoje está a rua que separa a estação rodoviária e a ferroviária. Na época da demolição, Ferraz trabalhava como engraxate na frente da antiga Catedral. “Eu passava pelas obras todos os dias e vi o prédio ser construído”, conta. O projeto, elaborado pelo arquiteto rio-pretense Lúcio Antônio Olival, trouxe como conseqüência a desativação da antiga estação, denominada Transportes. Historiadores divergem sobre o local exato do antigo prédio. Alguns registros situam a antiga rodoviária no quarteirão da rua General Glicério, entre as ruas Tiradentes e Siqueira Campos. Já outros estudos afirmam que a antiga rodoviária Transportes ficava na rua General Glicério, porém entre as ruas Prudente de Moraes e Pedro Amaral.

Apesar das críticas, Ferraz conta que a nova estação rodoviária, na época, encheu os olhos dos rio-pretenses de orgulho. “A cidade começava a ganhar ares de grande centro urbano, deixando aos poucos as características provincianas. Após a inauguração do novo prédio, o comércio ao redor ganhou impulso e se desenvolveu rapidamente”. Atualmente, 8 mil pessoas embarcam e desembarcam todos os dias no local, indo ou chegando de diversos pontos do Brasil. São 150 ônibus saindo e outros 150 chegando, além de 720 da linha suburbana, responsável pelo transporte de passageiros para as cidades mais próximas da região. A Rodoviária ainda conta com 30 estabelecimentos comerciais e abriga, no segundo andar, as sedes da Defesa Civil, da Empresa Municipal de Urbanismo (Emurb), do Banco do Povo, do Procon, Conselho Municipal Afro- Brasileiro e de outras entidades. O prédio, de dois pisos e subsolo, passou por reformas há três anos. A escadaria principal (interna) foi transformada em galeria de arte, numa homenagem ao artista rio-pretense Alcides Rozani (1930/1997), um dos fundadores da Associação Rio-pretense de Belas Artes.

O espaço abriga oito telas de artistas locais e tem espaço para outros quatro quadros de exposições itinerantes. No saguão, permanece a escultura estilizada de São Cristóvão, de autoria de João Figueira. Fruto do “trabalho de fé e coragem do trabalhador da gente rio-pretense”, conforme consta na placa inaugural, a rodoviária chega ao século 21 em xeque. De dimensões aquém do desenvolvimento da cidade e vítima constante de inundações, o local é alvo de pesquisas que devem levar à sua desativação. O objetivo é construir uma nova estação e os estudos, até agora, apontam como endereço mais provável as margens da rodovia Washington Luís (SP-310).